Brasilienses vão a São Paulo para buscar vaga no Para-Pan de Guadalajara

O velocista Thiago de Souza testa as novas rodas de sua cadeira: recém-chegadas do exterior para a disputa

Thiago de Souza, 20 anos, testa os pneus da cadeira de rodas como um piloto de Fórmula 1 testa seu carro novo. O atleta estava parado há pouco mais de um mês, esperando pelo acessório, que veio de fora do Brasil, para dar continuidade ao treinamento de velocista. Ele perdeu os pneus anteriores na Corrida do INSS, em 19 de junho, quando forçou demais a cadeira. O problema veio em um mau momento, em que o atleta busca uma vaga nos Jogos Para-Panamericanos de Guadalajara. Mesmo com o contratempo, porém, ele não desanima e assegura que pode recuperar o tempo perdido até o próximo sábado, 5 de agosto, quando vai brigar, em São Paulo, por um lugar no evento.

Ele é um dos 21 atletas de Brasília que vão participar da Etapa Nacional do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo, Halterofilismo e Natação. Com chances em três provas (100m, 200m e 400m), Thiago representa o Brasil em competições internacionais desde os 13 anos. Se conseguir a vaga no Para-Pan, terá uma experiência nova: “Estou confiante. Nunca fui para um Pan e cada competição é diferente. Seria um sonho voltar com uma medalha”.

Com ele, treinam mais dois atletas do Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe): Paulo Flaviano Pereira, 25, e Jonatas Bernardo, 20, ambos com paralisia cerebral. O treinador Denis Gigante, que está há três anos à frente da equipe de atletismo do local, aposta que os três têm boas chances de serem convocados para a Seleção Brasileira. “Na cadeira de rodas, Brasília sempre despontou. Nas outras modalidades de atletismo, está crescendo. O melhor é que o Cetefe tem dado condições para os atletas treinarem”, observa.

Paulo, por exemplo, já é um dos melhores do Brasil na categoria T38. O goiano, que nasceu com paralisia cerebral porque seus pais eram usuários de drogas — e, durante parte de sua vida, ele também foi —, aproveitou o incentivo de uma tia para começar a treinar. “Vi os corredores e quis também”, conta ele, que tem dificuldades para falar. O sorriso, no entanto, não esconde o entusiasmo do velocista com a possibilidade de ir ao Para-Pan.

Sua estreia internacional foi em Christchurch, na Nova Zelândia, no Mundial, em janeiro deste ano, onde conseguiu uma de suas melhores marcas, com 55s14, na prova de 400m rasos, sua especialidade. Ele vai correr também nos 100m e os 200m rasos.

Chance na natação
Todos as fichas estão em Sandra de Medeiros, nadadora, 30 anos. Dos atletas paraolímpicos que vão para São Paulo, apenas seis são da natação, mas o próprio técnico do esporte no Cetefe, Marcus Espírito Santo admite que ela é a única que tem a possibilidade de se classificar para o Para-Pan. A atleta está deslumbrada. Há um ano, nem imaginava que poderia chegar tão longe. Agora, já soma a experiência de ter participado do Mundial em Berlim, em julho, e a chance de integrar a Seleção Brasileira. Mãe e funcionária pública, ela encontra dificuldades para conciliar tudo e vê como um grande feito a pré-convocação. “Tenho que cuidar dos meus filhos, da minha casa, trabalhar e ainda treinar. Sorte que conto com o apoio de todos e estou muito surpresa com os meus resultado”, conta.

Fera no arremesso
No início, o foco era a natação. Depois, a corrida. Até que Jonatas Bernardo descobriu seu talento para o arremesso. Ele anda com dificuldade, porque nasceu com uma paralisia cerebral que afetou as pernas, mas nunca pensou em se isolar do mundo. O atleta viu nas piscinas a chance de se exercitar, apesar do receio dos pais, que preferiam que o filho nem saísse de casa. Aos poucos, no entanto, foi migrando para o atletismo, depois de se arriscar a correr alguns metros e fazer alguns arremessos.

Foi só mesmo no ano passado, porém, que ele resolveu levar a carreira a sério. Decidiu se especializar no arremesso de dardo, disco e peso: “O resultado foi a pré-convocação para o Para-Pan. Quando me falaram que eu talvez tenha a chance de representar o Brasil, achei que estavam brincando. Estou muito feliz”, alegra-se. Ele admite que se sente mais motivado e espera, pela primeira vez, poder representar o país em um campeonato internacional com o arremesso. Ele já foi para a Argentina nos Jogos Escolares, em 2005, mas para correr.

SAIBA MAIS

O que é o Circuito Loterias Caixa
O campeonato existe desde 2005 e foi criado para suprir a reivindicação dos atletas paraolímpicos pela realização de um evento nacional, em etapas, com calendário fixo e premiação em dinheiro. Este ano, a Etapa Regional Centro-Leste, na qual inclui-se o Distrito Federal, foi disputada em Brasília. O desempenho nela classificou os atletas para a Etapa Nacional e ainda rendeu pré-convocação para os Jogos Para-Panamericanos